quinta-feira, 31 de julho de 2008

Peace

Foto de Nana Sousa Dias
Abro a porta do quarto dele e me tranco dentro. Não. Recuso me dar por obrigação. Não. Recuso-me a fingir que está tudo muito bem quando está tudo a desmoronar ao nosso redor.
Consigo ouvir o barulho que fazes arrumando as tuas coisas. Consigo ouvir o bater das gavetas quando já conseguiste esvazia-las.
Partes. Pronto. Já está.
Não. Afinal não está.
Voltaste.
Não. Apenas voltaste para buscar as tuas coisas e sais. Em princípio para sempre.
Dói, Dói muito, mas não sei o que me dói, nem onde me dói, nem porquê me dói, apenas dói.
Dor de perda?
Dor de amor?
Dor de mágoa?
Quero-te aqui porque te amo?
Quero-te aqui porque estou apaixonada?
Quero-te aqui porque estou em demasia habituada a tua presença?
Quero-te aqui porquê?

Ambiguidade é a palavra de ordem
O pós “nós” é assim:
Sinto-me tranquila, mas essa tranquilidade é inquietante.
Sinto-me livre, mas i long cativeiro.
Sinto-me em paz...

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Afronamim

Vivo sozinha com o meu padóss d’ceu azul, Tiago. O nosso apartamento situa-se na zona conhecida como Ex-Edilter em Chã de Alecrim. Na passada 2ª feira apanhei-o no jardim e caminhamos pachorrentamente pela Avenida Dr. Alberto Leite, e pelo calçadão, na Laginha.
Eram18h15 e a praia estava apinhada de gente, prova clara de que o verão realmente chegou.
Tiago ficou logo entusiasmado e pediu-me pa tmá um banhim.
Em dez minutos já estávamos de volta à Laginha prontos para o tchiluf. Ficamos por lá cerca de uma hora. Foram momentos de pura satisfação para ele. Uma hora de tchilufs, de bolinhos de areia com formato de tartaruga e caranguejo, de rolar na areia, enfim...
De regresso a casa antes de começar as tarefas disse-lhe “mama ti ta bem pô um muskinha sabim” e lá pus a tocar o Afronamim.
Entretanto fui fazendo o que tinha a fazer, banhar-lhe, vertir-lhe, dar-lhe de comer, preparar tudo o que deve ser preparado de véspera quando o dia seguinte é dia de trabalho. Nesse meio tempo o cd terminou e voltei a carregar o play.
Terminadas as tarefas todas era agora hora de me cuidar, de me banhar, relaxar e preparar para cair na cama e no momento que a água fria me tocava a pele vejo a cabecinha dele aparecer por uma fresta da porta da casa de banho e, me olhando, diz “mama a ta bom dess muskinha, agora tcham pô Noddy um gzinha, ouvi?
Só para ser mais clara, lá em casa o leitor de cd é o dvd player uma vez que temos um sistema surround.

Resumo da ópera: estava há muito tempo acupando o dvd player com o Afronamim, ele respeitou, mas pressentindo que seria assim toda a noite, caso não dissesse nada, tratou de me lembrar que ele também tinha a sua vez, afinal também ele tinha encontro marcado com o Noddy nessa noite.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Afronamim

Lá em casa uso o dvd como aparelho de som uma vez que tenho um sistema seround.

Vivo sozinha com o meu precious, meu pasódd d'ceu azul. Ontem fomos dar um tchiluf na Laginha por volta das 18H00 - mais parecia 16H00 - e quando regressamos a casa enquanto me desdobrava dando-lhe banho, ventido-o, dando-o de comer, arrumando a casa, lavando a louça do almoço, preparando a marmita para o almoço do dia seguinte, a lancheira dele, a roupa dele para o jardim no dia seguinte, enfim, é preciso fazer tudo de véspera porque de manhã não lhe apetece sair da cama e por isso levo imenso tempo preparando-o e a mim para sairmos de casa ainda a tempo de o deixar no jardim, de deixar a marmita no Maravilha e chegar às 08H00 no trabalho. Bem, antes de começar isso tudo, disse-lhe "mãe ti ta bem pô um muskinha sabim" e pus a tocar o Afronamim.

Depois de concluídas as mil e uma tarefas de que já falei

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Dimensões

Foto de Marília Campos

Dormi no sofá
Dormi no sofá vendo um filme qualquer
Dormi e sonhei...sonho...contigo...
É uma outra dimensão
Um lugar “déjà vú”
Olho em volta...ah, aí estás tu
olhas para mim e sorris...parece que me esperavas...parece, não sei.
Mas fico por isso e acredito
Canta o rouxinol...aquela melodia
Sopra o mar a brisa que nos afaga a pele
o beija-flôr beija a flor com delicadeza, com meiguice, com doçura, querendo nos dizer que não custa nada...afinal, outra dimensão...sem vigilância, sem julgamentos, sem sanções
Olho para ti e sei que me podes ler
Sem perguntas, sem respostas, sem palavras, falo-te e tu a mim
o meu olhar, o meu respirar, o meu pulsar falam-te e confessam...rompamos as convenções...sim rompamo-las
Aproxima-te, toca-me, beija-me, sinta a minha sede...beija-me...
mas a outra dimensão não se desintegrou, dizes
...ssshhhiiiiiuuuu...não quero saber...quero este momento...quero-te a ti...não me olhes apenas...toca-me que o teu olhar queima-me, toca-me que o meu corpo suplica...sim, assim...lábios quentes, corpo quente, cheiro bom da tua pele, gemidos de ânsia...toca-me, explora-me...sim, quero, quero mais...sim, unir-me a ti...sermos um, uma mente, um sentimento, um só corpo...
Que se passa, que barulho foi aquele????
não, não quero...não deixes que a realidade nos engula novamente, fiquemos nesta dimensão...onde nós somos um...

O filme acabou. Levanto-me e apago a caixa de imagens.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

SP - uma história de amor

Foto de Ornella Emilio

A distância me tortura
O tempo me maltrata
A tua ausência me sufoca

Ainda, quando me deito, sinto o teu cheiro
Quando me banho em água morna pressinto o teu corpo ao alcance da minha mão
Pressinto o cheiro a herbal essences dos teus cabelos
E quase posso sentir-te tocar-me com as tuas mãos macias e com os teu lábios quentes

Nada no mundo tem o alcance do teu beijo, nada mo faz esquecer

Cheiro a chuva, és tu
Tempinho frio e corpo quente para me aquecer, és tu
Vinho tinto com uvas negras, és tu
Lura e “Amor di nha bida”, és tu
Brincar no bosque, és tu
Amor nas nuvens, és tu

Como desejo que o ontem fosse hoje e o amanhã jamais chegasse,

só para me manter presa nos momentos que te amei e me amaste plenamente

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Freedom

Women Running on teh Beach - Picasso


Li há já alguns anos este escrito do Neruda e lembro-me de ter passado dias a fio pensando no que tinha lido.
Sempre que pensava nesta mensagem vinha-me à mente o conceito "liberdade".
Tudo começa com a liberdade, liberdade de pensamento, liberdade de alma, liberdade de expressão, liberdade para sonhar e de correr atrás desses sonhos, liberdade de escolha... Aquela liberdade que nem sempre depende de terceiros, aquela liberdade que vive dentro de nós.
Somente a liberdade nos pode impedir de morrer lentamente.
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir do conselhos sensatos.

Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples facto de respirar.

Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade.
PABLO NERUDA
P.S. Não concordas João?

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Nirvana

a beautiful moment of my life

Hoje sou inexplicavelmente apaixonada
Hoje sou estupidamente romântica
Hoje tudo a minha volta ganhou cor
Hoje as flores tomaram o lugar aos cactos espinhosos
Não choveu, mas ainda assim consigo ver o arco-íris
Hoje, o barulho dos carros lá fora é melodia
Hoje o sol brilha psicadélicamente

Tudo porque chegaste
O mágico tirou a paixão da cartola
Porque conheci o sorriso mais sincero
A voz mais bela
O olhar mais transparente
E deixei-me levar pelo jeito ingenuamente tímido

Não corri, não procurei
O mágico simplesmente meteu a mão na cartola e as nossas vidas se cruzaram
Sequer tive consciência
Quando finalmente me encontrei com ela
Era hoje
Irremediavelmente hoje
Eras tu,
Irremediavelmente tu
Era a paixão
Paixão irremediável

Estou sem saída
Não a anseio, renego-a

A minha alma atingiu o nirvana, és o meu nirvana

terça-feira, 1 de julho de 2008

Fora de Foco I

Springtime - Monet

hoje,
a insanidade é miragem
o fardo é pluma
o confuso nem tanto assim

hoje,
outras fronteiras se levantam
minhas, tuas, da implacável força invisível que controla tudo

mas esboça-se, no horizonte da minha alma o springtime


ao menino que ri com os olhos