Aprendi nos idos anos 90 (anos que na última eleição tudo se fez para parecerem ter sido os piores anos da história de Cabo Verde), que a vontade do povo é soberana. Aprendi nessa década o significado de democracia, palavra que já conhecia, mas que não percebia o significado. Nessa década conheci a palavra cidadania e subsequentemente o seu verdadeiro significado. Essa década, agora, “diabolizada”, foi uma década de muito aprendizado para minha pessoa.
Voltando à soberania da vontade do povo, apesar de não ter votado “strela”, deixo aqui registado a aceitação e o respeito pela vontade da maioria (repito – aprendi isso na “diabólica” década de 90).
Nunca entrei por esse tipo de assuntos neste meu espaço(convém sempre recordar -
MEU) e por vários motivos, de entre os quais, por não ser politóloga, por não ser analista, por não me sentir dominar essa matéria que é a política e por não apreciar o “
achismo”, mas por outro lado a liberdade que me é dada, enquanto cidadã, me confere o direito de manifestar, de concordar ou discordar. A minha vivência, o meu dia-a-dia de cidadã comum, anónima, que trabalha, que paga impostos, que enfrenta dificuldades, que exerce o seu direito e cumpre o seu dever de votar, me conferem o direito, sim, de opinar, de confessar as minhas preocupações e de reclamar.
Durante o período que decorreu a campanha tive a oportunidade de ter alguns debates com um jovem strela. Um jovem de 26 anos, o L. O L é strela convicto, descendente de strela, filho de ex-ministro do Governo strela. Um jovem bem sucedido, que aos 26 anos já se dá ao luxo de conduzir um carro topo de gama. Nada contra, apenas contextualizando. Aprecio o L, é bom menino, de bom coração, muito entusiasmado e me faz lembrar o meu irmão mais novo. Ambos de 26 anos, ambos de personalidades muito fortes, ambos jovens decididos e certos do que querem, embora um seja
strela e o outro
ventoinha – bonita a democrácia, não é gents?
O L é daqueles que diaboliza a década de 90, é daqueles que mantêm na ponta da língua frases tipo “pedra ku garafa ka ta djuga”. Daqueles que acha que o Dr. Carlos Veiga não é um senhor (e o é) e nem merecedor do respeito dos cabo-verdianos (também o é).
L nasceu em 1985 e em 96 tinha apenas 11 anos de idade, matematicamente em 2001, 15. Votou pela primeira vez nestas eleições de 2011. Confrontei-o com esses factos e ele se defendeu dizendo que o pai lhe contou e que tem lido muito sobre essa década, que tem analisado as estatísticas, etc, etc.
É essa a forma como transmitimos a história do país aos nossos filhos???
Falemos as verdades todas, contemos a história como ela é, não a manipulemos e não eduquemos os nossos filhos para a militança.
À minha descendência, com apenas 6 anos de idade já tende a simpatizar com o que eu, mãe, simpatizo, mas digo-lhe sempre. Essa é a escolha da mãe que já é adulta e percebe as coisas. Tu ainda és uma criança e não percebes, quando cresceres vais entende-las e poderás até não ter a mesma escolha que a mãe.
E, POR FAVOR, NÃO ME VENHAM COM LEITURAS, NÃO ME VENHAM COM HISTÓRIAS, NÃO ME VENHAM COM ESTATÍSTICAS. VENHAM COM VIVÊNCIA, VENHAM COM EXPERIÊNCIA DE VIDA.
Dizia-me o L que a saúde melhorou consideravelmente e a pergunta soltou-se-me instantaneamente: alguma vez estiveste no Banco de Urgência? Alguma vez foste fazer a marcação de análises clínicas no hospital? (claro sem cunhas, sem amigos médicos para dar aquela mãozinha, sem amigos da mãe ou do pai). A resposta, naturalmente, é NÃO.
O L tanto não precisa ir ao hospital que não faz ideia que existem pessoas que, após internamento, fogem do hospital porque não possuem o valor para pagar a sua estada no hospital.
A isso ele remata - em toda a parte a saúde é paga - concordo, deve-se pagar mas para isso a população precisa de emprego, emprego que lhe possa garantir um salário para pagar essas despesas, nesse caso uma despesa básica, uma despesa de saúde.
O PAICV terá, por agora, mais 5 anos para dar continuidade ao que pregam ter sido uma excelente governação.
O L me diz que não tem um único erro a apontar ao JMN. Compreendo é jovem, no calor dos 26 anos, na ingenuidade dessa idade, na ilusão de quem nunca teve falta de nada, não passou por dificuldades e não convive com pessoas em condições dramaticamente opostas à dele. Mas o próprio JMN sabe quais foram os seus erros embora jamais os vá admitir publicamente (é a política). Ele sabe e no seu discurso de vitória prometeu exactamente isso – corrigir os erros, fazer o que não fez em 10 anos, não por essas palavras, claro.
“... criar milhares de postos de trabalho...”Apenas esse exemplo porque somente essa tarefa já será muita coisa para os 5 anos que se avizinham, esperemos, para o bem de todos os
cabo-verdianos e
cabo-verdianas, que ele consiga.
Vamos ter juízo e parar de comparar coisas incomparáveis. Façamos balanços com justiça.
Nos nossos 36 anos de independência não existem momentos unicamente negativos e nem momentos unicamente positivos.
Justifiquem as militanças com mais originalidade, please.
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