
De volta as três linhas. Ainda penso no que te teria dito, já li e reli tudo o que eu escrevi, mas não consigo encontrar nada que pudesse despertar tamanha fúria na pessoa que considerava uma das pessoas mais positivas e calmas da minha convivência. Talvez essa concepção que tinha de ti também não tenha ajudado, a fasquia ficou alta demais. Quem sabe dentro de mim, inconscientemente, também te considerasse diferente dos comuns mortais. Mas não és e por alguma razão explodiste, como qualquer comum mortal, mas continuo sem saber o que foi, qual foi a fonte de ignição daquela fúria demostrada em apenas três linhas.
Pôr-te contra a parede? O que é isso? Sinceramente existem conceitos que no meu dia-a-dia não utilizo porque na verdade acho-as despidas de sentido. Sentir-me contra a parede ou achar que estou a pôr alguém contra a parede são coisas em que não penso porque para mim não existem. Para mim isso, sim, é non sunsus.
A medida que vou escrevendo este monólogo assalta-me o medo de despertar novamente a tua fúria e me ver novamente atingida por ela mas esse medo não me pode impedir de expressar o que me vai na alma, não, não pode. Nesse dia então a vida perderia sentido, no dia em que vivesse em função dos meus medos tudo perderia sentido.
Penso também se tivesse deixado que a fúria me acometesse quando li as tuas linhas, muito poéticas e lindas por sinal, as que dizes ter escrito ao som do Same Mistake. Essas linhas que me fizeram sentir que me querias em stand by mode. (por falar em música, escrevo este texto escutando o Dzem Kma Sim do Hernani) Certamente não teria sido tão dura quanto tu foste, não teria sido tão cruel, embora tivesse mais razões do que tu para ser, mas no mínimo pedia-te que não me tratasses como uma TV, DVD ou outra máquina qualquer. Aquelas a que temos a opção do stand by, sabes? No mínimo dir-te-ia que tratar as pessoas com dignidade é ajudá-las a terem certezas quando elas se sentem perdidas dessas certezas e tudo o que te pedi naquele dia foi isso, uma certeza de que “i was not waiting in vain for your love”, mas agora sei que estaria sim esperando em vão, que não existia sequer a abertura para uma tentativa, era um passatempo, um “viver alguns momentos bons” e era tudo o que queria evitar, queria matar as esperanças que, quer queiramos quer não, quando estamos apaixonados alimentamos, queria ter a certeza de que não havia disponibilidade sequer para uma tentativa, queria ter a certeza de que estava tudo perdido desde o início – me apanhei agora a pensar: início de quê? Vai-se lá saber... Também isso já não interessa - .
Neste momento a dor ainda se faz sentir na pele, o meu sentimento é profundo e sincero, mas há uma frase que nunca esquecerei, uma frase índia que diz “Nothing last forever but the mountains.”. Assim, tenho esperanças, que agora que ficou tudo claro, me passe, algures no tempo. E enfim, estarei livre novamente para voltar a me apaixonar e amar. Porque quem somos nós sem amor, sem paixão...? Na vida devemos estar abertos para esse sublime sentimento. Que acarreta dor e compromisso, mas valerá sempre a pena.
A dor está ainda muito intensa, a ferida ainda está muito fresca, mas estou certa que quando a dor passar e a ferida cicatrizar vou poder relembrar os momentos bons, mas jamais esquecerei a forma cruel como elas terminaram e a cicatriz, qual tatuagem, nunca me permitirá esquecer a dor que foi ler aquelas três linhas e acima de tudo não me permitirá jamais esquecer a amizade que foi flagelada pelo egoísmo. Ao pensar em tudo minha tendência é sentir-me vulgar, mas tenho certeza que, da minha parte, em nenhum momento foi vulgar, não se tratou apenas de uma entrega física, mas uma entrega completa.
Apaixonada, entreguei-me de corpo e alma.